it's evolution, baby

Um grande e aplaudido "bravo!" aos senhores da Fnac, que já incluem o Isaac Asimov na secção de literatura dita normal.

em gestação (II)


And no, you can't play that in this serious hall
Only apes, wearing capes, get the curtain call

Parasol, Sarah Slean

(imagem: The Sweepers and the Maestro, Sarah Slean)

flirt é

Quando o rapaz giro da caixa elogia as nossas escolhas gastronómicas como quem pede um convite para ir jantar lá a casa.

m is for magic

esconderijos

A lua nova nunca foi o meu forte.

hell, yeah


It is a truth universally acknowledged that a zombie in possession of brains must be in want of more brains.

Pride and Prejudice and Zombies, Jane Austen and Seth Grahame-Smith


Darcy com larvas?

para o f.

e para mim, que bem preciso ser defendida de mim própria...

O que eu quero fazer é o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Teixeira de Pascoaes meteu-se num navio para ir atrás de uma rapariga inglesa com quem nunca tinha falado. Estava apaixonado, foi parar a Liverpool. Quando finalmente conseguiu falar com ela, arrependeu-se. Quem é que hoje é capaz de se apaixonar assim?

Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato. Por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. (...) Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há. Estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.

Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o medo, o desequilíbrio, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa a beleza. É esse o perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A"vidinha" é uma convivência assassina.

O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente.

O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita. Não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar. O amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder, não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.

Em Nome do Amor Puro, MEC

solfejo

Quando era pequena ensinaram-lhe a contar o tempo de forma matemática. Lógica, limpa e mecânica.
Já crescida, deu por si a tropeçar, desengonçada, nos momentos em que o ritmo se tornava mais complexo e surgia todo um arsenal de sinais confusos.
Assumiu a sua culpa, ignorância e falta de destreza e, toda humildade, pediu aos sábios que lhe ensinassem o tempo de novo. Os sábios, encantados com a nova discípula, perceberam que a falha não estava nela - e sim no sistema que utilizava.

Já crescida, reaprendeu a contar o tempo. De forma simples, quase infantil e bem mais eficaz.

e porque não?

He was in love with the most beautiful Reed. He had met her early in the spring (...) and had been so attracted by her slender waist that he had stopped to talk to her.

"Shall I love you?" said the Swallow, who liked to come to the point at once.



The Happy Prince, Oscar Wilde

gomesianismo

Vagueando toda a noite.
Bebendo todo o dia.

Vida de pobre

Ninguém nos tira uma fotografia.


Já aborrecidos à tarde
Bafámos um charro.
A alegria voltou

Mijámos em cima de um carro.


Embora o verso pareça fácil

Ainda tive de reflectir um bocado.

Agrada-me escrever

Sobre o futuro, presente e passado.


João Gomes, #32, in Poemas na Madrugada


Trabalhar com livros dá-nos o privilégio de descobrir as melhores pérolas obscuras (leia-se negras) da literatura.

É o caso de João Gomes e os seus Poemas na Madrugada, colecção de 34 desabafos que será, talvez, o melhor achado no universo da poesia nacional.

Poeta audaz, que se eleva acima de conceitos como métrica ou conteúdo, o sujeito da obra de Gomes é um ser angustiado que dá muitos passeios. Mantendo uma inocência literária que muitos de nós perdem por volta da pré-adolescência, os poemas dividem-se entre a sua visão do mundo (que nunca percebemos muito bem qual é), a mágoa de um amor falhado (Todos os sorrisos que vejo / Possuem a falta do teu), alguma luxúria (Anda cá / Onde vais tu? / Fêmea / Com alma de fogo) e o Jim Morrisson.

No mínimo original, a poesia de João Gomes pertence à mesma categoria que as melhores telenovelas de todos os tempos ou o fenómeno Ken Lee: expressões artísticas que se assumem perante o mundo com uma coragem invejável e que, de tão más, não as conseguimos largar.

milord



Ao único amigo artístico-intelectual e hetero por quem não me apaixonei.
Mas por quem morro de amores.

good old charlotte


I am every color of a comet's night
I'm an open door to every stranger
To every stranger
I know I'll feel the most
The fury vanishes as I'm shaking here
You know I'll feel the most
The fury vanishes as I'm shaking off my grave clothes

Charlotte Martin, Grave Clothes

crisa-mos (II): parábola


Tive em tempos uma colega que ruminava rancores já bolorentos. Orgulhosamente fatalista, agarrava-se aos problemas como se não tivesse mais nada no mundo; alimentava-os com a maior das dedicações - e ficava muito surpresa por vê-los crescer.

segredo da semana (IV)

it is quiet

it is quiet my love
I do not float away
at your sight at your words
at your matter of gray

it is rooted my love
like the ancient cool stream
your reflection so close
to the one I have seen

and they're crappy, my love
these words and the rhymes
as it's born in the heart
love, not in the mind

a "manja" babada

A melhor banda do mundo na mais aconchegante das livrarias





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avós adoptam-se

A feirante-livreira lia a Mafalda, quando uma velhinha se aproxima da caixa para pagar um livro com uma freira na capa.
- São 2.99, por favor.
A velhinha pega no porta-moedas.
- Se tiver os 3...
- Não, menina, os três já perdi.